Nos últimos quarenta dias, apenas com uma interrupção devido ao coronavírus, fui partilhando no blog pequenos desafios diários com o tema “Cuidar do Planeta”, ao mesmo tempo fui partilhando no Instagram fotos da minha interpretação de cada desafio. No total foram 22 fotos das quais quero destacar estas 3, a foto que mais me marcou, foto que mais reduziu o meu impacto ambiental e foto mais “popular” no Instagram.
Não partilhei o desafio numero 40 na véspera da Páscoa propositadamente, porque queria ter o tempo de preparar uma resposta adequada. Aqui está o desafio #40:
O que vais levar para adiante de tudo o que aprendeste e fizeste durante o desafio Cuidar do Planeta?
O desafio Cuidar do Planeta permitiu-me prestar atenção a uma série de questões ambientais e também educar-me sobre o assunto. A minha resposta a este último desafio é este artigo, uma reflexão sobre o tempo em que vivemos, o planeta e o futuro da espécie humana.
* * *
Começando pela ciência, 2020 é apontado como o ano crítico para o início da redução das emissões de carbono. Para evitar eventos climatérios extremos cada vez mais frequentes, como o aumento do nível médio do mar e uma extinção em massa de plantas e animais (e potencialmente da espécie humana), é preciso reduzir em 7% as emissões de gases de efeito de estufa (GEE), todos os anos, durante os próximos 30 anos.
Em Janeiro, estávamos tão perto deste objetivo como noutro ano qualquer, ou seja, nada perto e com uma tendência crescente das emissões de carbono. Entretanto, aconteceu uma calamidade que fez parar o planeta e, à custa de vidas perdidas, de muito sofrimento, e de uma travagem forçada da atividade económica, estima-se que haja um decréscimo de 4% nas emissões de GEE este ano.
![air-pollution.jpg air-pollution.jpg]()
É difícil saber quanto tempo vai demorar até voltarmos completamente ao “normal”. É impossível saber como é que vai ser o novo “normal” depois da pandemia. Mas não seria bom voltarmos para um mundo com saúde e emprego; e também menos poluição, mais biodiversidade, e um modelo económico que deixe de assentar no paradoxo do crescimento económico infinito num mundo de recursos finitos, à custa de emissões de dióxido de carbono e do futuro das gerações mais jovens. Eu não tenho uma solução, mas quero partilhar convosco o que acho que podemos influenciar enquanto indivíduos. Já que estamos todos fechados em casa, podemos aproveitar este tempo para refletir sobre o mundo que queremos.
No que toca à emergência climatérica e ecológica acho que cada individuo pode contribuir para uma solução agindo em 3 áreas de influência distintas. A primeira área de influência é a nossa vida pessoal, do nosso estilo de vida e das nossas escolhas de consumo. Afinal, onde gastamos o nosso dinheiro é um voto em produtos e serviços que têm um impacto ambiental maior ou menor. A segunda área de influência é a do ativismo, onde impacto de um individuo é amplificado ao juntar-se a outros que a creditam na mesma causa. Enquanto grupo, é mais fácil chamar atenção do público, fazer pressão sobre os nossos governantes sobre temas locais e nacionais, e agir contra empresas que têm um impacto nefasto no ambiente. Por fim, a área de influência que eu considero mais difícil, mas também a mais recompensadora, a área das soluções. Porque há uma série de desafios a que é preciso dar resposta, se queremos ter um nível de vida “semelhante” ao de hoje, sem pôr em causa a saúde do planeta.
PESSOAL
Para trazer mais algumas ideias para além do típico usar lâmpadas LED e comer menos carne, partilho algumas das ações inspiradas no livro “There is no Planet B” de Mike Berners-Lee, uma fonte credível cheia de ações com um impacto assegurado.
A primeira ação a tomar na esfera pessoal é a educação. Todos aprendemos na escola um pouco sobre o ambiente, sustentabilidade e efeito de estufa. No entanto, para a maioria dos leitores deste blog, a escola já foi há muitos anos. É preciso atualizar a informação que temos e ganhar novas perspetivas. Afinal, a nossa compreensão do mundo não é a mesma que quando estávamos na escola e o nosso estilo de vida também não. Apenas estando educados, podemos estar conscientes do impacto das nossas ações e podemos tomar melhor decisões.
Trazer para a nossa vida apenas aquilo é necessário. Não adquirir “tralhas”. Não aceitar coisas só porque são gratuitas. Não fazer compras porque estamos aborrecidos, porque nos sentimos inadequados, ou porque achamos que vamos ser felizes quando comprarmos a tal coisa. Ter cuidado com o que temos e com o que adquirimos para que dure muito tempo em boas condições. Quando o fim de vida dos objetos se aproxima do fim, reparar o que pode ser reparado, doar o que pode ser doado, reciclar o que pode ser reciclado e deitar para o mínimo de coisas possíveis para o lixo comum.
Aprender a gostar de atividades que requeiram pouca energia e tenham pouco impacto. Podemos tentar por de lado hobbies e passatempos que requeiram muita energia e muito carbono a favor de atividades com menos impacto no planeta. Estar com pessoas (sem apanhar aviões), conversar, ler, passear, e muitas outras coisas que eu não me lembro. Um mundo mais sustentável também tem de passar por uma revolução no nosso tempo de lazer.
Levar para o trabalho a parte de nós que se preocupa com o ambiente. Isto pode levar a coisa tão simples como usar uma caneca para o café em vez de um copo descartável ou tão difíceis como tornar a atividade da empresa onde trabalhamos menos intensiva em termos de emissões de CO2.
Votar em representantes políticos que estejam conscientes da crise ecológica e climática que estamos a viver. E que tenham programas partidários que proponham as soluções necessárias para não nos extinguirmos .
ATIVISMO
O ativismo é quando vamos para além das ações que impactam a nossa vida e começamos a tentar influenciar as pessoas e organizações à nossa volta.
De uma maneira individual, podemos falar com os nossos amigos, família e outras pessoas do nosso círculo social sobre a emergência climática e ecológica. É importante falar dos problemas do Planeta Terra, mas sem ser chato, dogmático ou com um complexo de superioridade. O objetivo não é converter pessoas, ou força-las a ter o estilo de vida que achamos certo. Penso que é muito mais eficaz (e benéfico para as relações) mostrar pelo exemplo. Por vezes, pequenos exemplos de várias pessoas são o suficiente para mudar a perspetiva de alguém. Cada pessoa leva o seu tempo para se sensibilizar para as questões ambientais e, muitas vezes, é contraproducente tentar um “abre-olhos”.
Para além das pessoas com quem estamos em contacto podemos espalhar a mensagem nas redes sociais e em plataformas onde temos alguma audiência. É o que eu estou a tentar fazer com este artigo.
Participar em manifestações de causas que acreditamos. Requer menos tempo e menos dedicação que pertencer a uma associação ambientalista a tempo inteiro, mas é uma forma de contribuir. Por exemplo, a primeira manifestação em que participei foi contra a instalação de um aterro na minha freguesia, juntamente com uma série de pessoas cá da terra. Uma das ultimas manifestações em que participei foi contra o apoio da BP ao British Museum e o “greenwashing”. É algo poderoso, fazer parte de um grupo de centenas de pessoas que acreditam no mesmo e se juntam para tentar mudar o mundo.
Ser um membro ativo de uma associação ambiental. O poder de um individuo é maior que a soma das partes quando se junta numa ação concertada. Muitas associações precisam de voluntários, com vários graus de investimento temporal. Fazer donativos, partilhar nas redes sociais, enviar cartas a representantes políticos, organizar protestos e ações de sensibilização, recolher dados e estatísticas, organizar o dia a dia da associação, ir preso. Há opções para todos os níveis de dedicação. Algumas associações que têm presença a nível nacional são a Quercus, Zero, Extinction Rebellion. Certamente que há outras, mas estas foram as primeiras que me lembrei.
Não esquecer também as associações locais. São os habitantes de uma certa zona que conhecem melhor os problemas ambientais que enfrentam. Podem organizar-se em associações, fazer pressão sobre as juntas de freguesia e municípios para resolver os problemas existentes e mesmo pôr ações em tribunal.
SOLUÇÕES
É preciso reinventar uma sociedade que caiba dentro dos limites do Planeta Terra, mas onde não haja pessoas excluídas. As áreas de reinvenção são infinitas, desde sistemas de agricultura que promovam a não desertificação dos solos, novas tecnologias de captação de carbono, passando pela geração de energia renovável, novos modos de transporte e até sistemas financeiros mais inclusivos. Precisamos urgentemente de soluções para um mundo mais sustentável e mais equitativo.
* * *
Conseguiram ler até aqui? Tinha planeado escrever um pequeno texto de reflexão, mas tornou-se num longo artigo. Deixem nos comentários, o que acham da minha reflexão? De que forma se sentem confortáveis em contribuir para a nossa não-extinção enquanto espécie?